Em cada poça de água da rua, o reflexo do fogo parecia queimar mil outras dimensões, um espelho sem fim daquela loucura.
As pessoas em volta corriam. Algumas paravam e colocam as mãos na cabeça, se perguntando que mente havia iniciado tamanho caos, tamanho poder começando na cabeça diminuta de algum fósforo já há muito queimado. O irônico era que algumas pessoas estavam ali só para apreciar o estrago, se deliciando com os estalos e o rugido do fogo, as lágrimas que escorriam da tinta da parede.
O céu zombeteiro continuava seu rumo, as sirenes já despontavam no limiar da audição, a luz enchendo todos que estava ali perto. O trânsito parado, o ser humano em sua eterna necessidade de ver a desgraça do próximo desacelerando até quase parar para contemplar a destruição.
Aquele fogo selvagem dentro de cada um. E dentro desse fogo, no núcleo daquela reação, juntos na esquina, talvez o estopim humano daquele fogo. Duas pessoas, duas almas, dois corações se contentando com o calor e o infinito, entrelaçados nos braços um do outro. Era selvagem, mas era delicado. Apesar de tudo, eles só estavam aproveitando o fogo como todos ali, e as risadas deles enchiam alguns de terror, outros de contentamento.
E na mente de todos, e na mente de nenhum. Como, afinal, alguém poderia temer algo que brilhava em todas as poças daquela rua?
t.
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