originalmente escrito em 8/09/2010,
com a proposta de redação sendo o diário de
algo que não seja humano.
com a proposta de redação sendo o diário de
algo que não seja humano.
Eles sempre esperam por mim. Todo dia, toda hora, apesar do medo racional pela minha vinda inevitável. É por isso que estou aqui sentada, minhas asas escuras como meus olhos dobradas para trás.
É pele, eu acho. É pele este pedaço que resolvi tomar como diário. As letras são escarlates e a ponta afiada de uma pena minha corta limpo as palavras.
Todos eles esperam por mim e eu nem sequer posso me visitar parar me livrar dessa dor, dessa angústia.
As imagens vem até mim, uma criança, só uma criança e eu estou tão cansada de livrá-los de seus eternos jogos, tão mais eternos que todos eles juntos.
É sempre assim, todo dia. Esse diário terá uma só página, porque eu sei que vai ser sempre assim, até que o último deles venha dançar nas minhas asas.
O ódio. O ódio que eles tem de mim, como se em algum ponto eu pedi para ser isso. Eu venho até eles, os que clamam e os que temem. Às vezes eu sou a única que vai visitá-los, a única que oferece abrigo, envoltos em minha asas frias, mas completas. A única certeza nesse circo de dúvidas que eles criaram.
Eu já posso ouvir ao longe um choro de criança, prevejo os gritos, as pragas, o meu nome amaldiçoado de boca em boca.
Eu não queria ter que fazer isso.
Vou deixar essa página aqui. O nome de todos eles queima na minhas costas.
Vai ser sempre assim.
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