20081228

Daqueles sem Esperança

3 da manhã e eu simplesmente não sei.

Sentado aqui nessa mesa, cheirando o cheiro úmido de suor e frustração, o suave palpar da música e da decadência. A leve fumaça do meu cigarro sobe, marcando caracóis na imensidão atômica dos meus cabelos. O copo, já vazio, quieto, me observa.
Há 15 minutos que um homem ao canto vomitou e caiu, provavelmente se afogando no próprio vômito. Pergunta se eu me importo? As prostitutas continuam dançando, os bêbados continuam se afogando e eu aqui, escrevendo. Por quê? Porque é o que eu preciso, é o que eu vou fazer pra me manter são nesse âmago da humanidade.

Sim, o âmago, a apoteose, o cúmulo. Ironicamente, é aqui onde se vê do que somos feitos. Ambições, sonhos, memórias. É aqui onde perdemos nossas ambições, enterramos nossos sonhos e bebemos para esquecer.

Mas esquecer o quê, você se pergunta? Esquecer o passado, esquecer dos velhos amores, das velhas manias, dos velhos empregos, dos velhos ditados. Esquecer que já houveram tempos melhores, esquecer que jamais existiram esperanças. Esquecer do presente, esquecer de si mesmo, esquecer de existir.

A magia etílica lentamente te leva pra onde você quer, aqui, no âmago, na apoteose, no cúmulo. Não é engraçado como tudo cai em pedaços ao seu redor? O piano martela as notas em desarmonia, assim como batem os corações das pessoas ao meu redor. A morte bebe ao lado, companheiros. Todos sabemos disso, mas pergunte se nós nos importamos?

Passamos a vida inteira andando rumo ao norte, mas damos um passo para tráz e a vida inteira andando para o norte se resume em um passo para o sul.

Poderia ser tudo de outro jeito, poderiamos ter dado certo, poderiamos estar lembrando de que ser é algo necessário, que há amor e que há esperanças. Mas o copo aguarda, a fumaça, as prostitutas e o piano. Somos, em suma, um resumo de nada que pensa alguma coisa que não existe.

E há outro modo?

Talvez houvesse. Talvez quando ainda o nosso coração batesse jovem e forte.

Agora, só a decadência, a fumaça e o copo.


Thomas Hanauer

3 comentários:

  1. <3
    ~
    eu não sei fazer criticas construtivas.

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  2. Eu também não sei fazer críticas construtivas.
    (tá, mas também não precisa me chamar de 'amor')

    Porém, sinceramente achei showzão! Gosto de textos desse tipo, meio sem gênero, meio poético, meio depressivos, muito bom! =D
    Continua, Thomas!!!

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