20091015

àqueles que caíram

A chuva tamborilou ao meu redor e no meu rosto.

Imagino que eu esteja aqui há alguns segundos, mas parecem milênios. Trovões explodem dentro da minha cabeça, um gosto de ferro se mistura com um mais amargo, no fundo da minha garganta: sangue, dor. Decadência, fracasso.

O céu se estende cinza, chovendo suas lágrimas frias em cima de mim, em cima de toda essa rua, com seus carros cuspindo sua fumaça como meus pulmões agora cospem seu sangue.

O que me trouxe até aqui? Não parece importar, agora que meu corpo veste esse chão com minha carne e sangue, e a dor gritando amortecida por entre as migalhas dos meus ossos e dos meus sonhos.

Acho que continuar de olhos abertos depois de abraçar os céus é quase a ironia perfeita de algum deus sem nome.

Hora de se preocupar com as conseqüências, afinal.

O relógio trincado no meu pulso clica seus segundos. Um, dois.

A verdade de que não há mais jeito não assusta tanto quando eu pensei que assustaria, aqui no final de tudo. Meus olhos se enchem com os vidros do grande prédio à minha frente, meu sangue refletindo uma rosa naquele chão cinza e tão completo.

Irônico.

A chuva ajuda aquela rosa a florescer no desolado e estéril intrincado cinza da rua. Riscos quentes cortam o sangue das minhas faces, vindos dos meus olhos vazios.

Se eu fechar esses olhos agora, a dor irá embora?


(nothing left to say)

(your pain will go away)

Thomas, 15/10/09