20090627

memories to swallow all this tears.

Entende, por fim, que algumas coisas jamais mudam.
Entende que a mentira dita com um sorriso funcionam melhor do que a verdade.
Entende que as pessoas são zeros e uns, e que os uns só aceitam os zeros se for à esquerda, o que não faz a menor diferença.
Entende que fatos são fatos só quando a situação condiz e o resultado beneficia.
Entende que sorrir é uma das melhores defesas de pessoas tristes.
Entende que fugir jamais resolveu alguma coisa, uma fraca saída, mas não resolução.
Entende que algumas pessoas simplesmente não se importam.
Entende que pode sim, não ter jeito.
Entende que pensar em si próprio é um jeito bem fácil de viver sozinho.
Entende que erros são escolhas e escolhas são humanas.
Entende, por fim, que algumas coisas jamais mudam.



Thomas.

20090622

Berlim - 30 de Abril de 1945.


Parado no fundo deste beco, penso que não há mais jeito.

O som dos tiros e bombardeios enfraquecem os meus sentidos. O cheiro amargo da derrota se funde com o ferroso aroma do sangue dos que caíram.

E quantos caíram? Quantos voltarão pra casa? Não sei.

Não sei nem se me importo.

Minhas mãos, antes acostumadas às coisas simples, agora correm por um grande pedaço de fim, com seu metal, munição e gatilho.

Imagino que seja algo em torno de 16 horas da tarde. Meu velho relógio, presente do meu avô, parou às 6 horas e 21 minutos da manhã.

Uma tropa ostentando uma bandeira vermelha passa correndo na frente do beco. Levanto-me e o céu esfumaceado e cinza clama pelo fim.

Aqui, no fundo da minha sanidade, percebo que daria tudo que já tive para que o gatilho tivesse emperrado.

Eram quatro que já foram oito. Todos com alianças douradas nas mãos que seguravam personificações da morte.

O tempo é um pai teimoso e egoísta. Serve aos seus propósitos e jamais pensa nos seus filhos. Houve uma eternidade do momento. O infinito tempo se fez do gatilho até a morte do primeiro soldado.

A cada estalo e brilho, eu desejava tombar, parar com os gritos. descansar no chão enquanto o pobre e amaldiçoado solo da minha pátria bebesse meu sangue, como um último fôlego antes do mergulho.

Mil anos em vinte e um segundos.

Quatro que eram oito ao chão. Eu em pé.

Não era isso no que eu acreditava, afinal? O mais forte reina, triunfa, comanda, sobrevive? No momento que percebo que sou mais um, uma rima sem sentido do forte, eu tremo.

No fim da rua que me encontro, um prédio desaba com um grito de pólvora. Algo no meu peito grita, grita que eu conhecia aquele lugar, meu coração havia sido criado lá.

Havia Havia Havia.

No horizonte, vejo outra bandeira vermelha, maior e imponente, tremulando no ponto mais importante da cidade.

Eu sinceramente achei que ganhariamos.

A pistola com as inicias S.S. me olha com seu fundo túnel agourento enquanto a chuva começa a tamborilar no meu capacete, tirando o sangue seco da velha caveira.

Bem, pelo menos no fundo desse túnel, eu vi uma luz no final.





(sadist of the noblest blood)

(once he was strong, and filled with visions. with life ahead he set his aims. then things went wrong.)



Thomas Hanauer - 22/06/2009.