20090915

juntos nós esperamos a tempestade

O vento daquele final de tarde passou suavemente por entre os jeans dos dois.

O céu que outrora brilhou laranja, agora era da mais pura escuridão. Apenas uma tênue luz atravessava tudo, como se fosse um fantasma de tempos passados. O velho faról, empoleirado naquele grande beiral, erguia-se como um dedo acusador em direção aos céus que piscavam esporadicamente, raios do final.

E os dois estavam ali sentados, lado a lado. Jeans surrados nas pernas, tênis velhos nos pés, sonhos quebrados brilhando nos olhos.

Logo a tempestade vai chegar.

Olhando em direção ao escuro horizonte, que se estendia em direção ao mar. O cheiro de eletricidade carregava o ar, parecendo estalar no céu da boca a cada respiração dos dois. E eles simplesmente esperam.

Algo em algum lugar deu errado. Uma porta não encontrada, uma pedra no lago da vida, um castigo divino, uma chance de começar de novo.

As transmissões dos últimos dias diziam ao mundo que algo nunca visto iria acontecer. Algo havia perturbado o âmago da criação. Tempestades elétricas e magnéticas se estendiam por todo o mundo, nuvens cobriam tudo, escondendo dos pobres filhos da terra o brilho do astro-rei.

Eles não se importavam nada com isso.

Eles estavam ali sentados esperando o mundo acabar, na arrogância de se ter menos de duas décadas de vida. Imagino que isso seja o certo, perdemos todos muito tempo querendo entender a necessidade de ser. Perdemos tempo juntando fracos para comentar a eterna roda do fracasso. A arrogância de não se preocupar acaba, às vezes, sendo a saída certa.

E a tempestade vem chegando.

Ela olha para ele, que continua com os olhos fixos no horizonte.

Mil lâmpadas não derrubariam a escuridão, e o resto das nossas vidas talvez já tenha passado. Aqui a hora é nenhuma.

Muitos que estavam com eles sentados na colina haviam se levantado e corrido. Tentando comprar tempo contra o inevitável. Mas os céus sabem quem caminha, quem foge.

A tempestade aparece no horizonte, implacável, devastadora, completa.

Os dois sentados ali, pés balançando ao vento, digam que vocês nunca irão se importar.

Nós erramos e iremos esperar.

Ela entrelaça os dedos em volta dos dele, que finalmente desvia os olhos da tempestade elétrica pra olhar na tempestade dos olhos dela.

Ele sorri e o cheiro de eletricidade os envolve, os ventos aumentam e não há necessidade de palavras.

Juntos nós esperamos a tempestade.



(it's all in the way that we know that we could have it all)

(the storm yet to come binds us as one)





Thomas Hanauer 15.09.09

Um comentário:

  1. conheço bem eletricidade, e o cheiro dela é o mesmo cheiro de uma discussão. te garanto.

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