20101201

estrelas

A chuva lá fora explodia suas milhares de gotas no teto. A lâmpada da rua estava apagada por de trás da cortina de água, deixando o quarto mais escuro do que nas noites normais. Os dois estavam deitados, ofegantes. Sem roupa, com um lençól branco leve delimitando os corpos. Mãos cruzadas, como sempre. Eles sabiam que era mais fácil romper o elo de uma corrente de titânio do que romper as mãos deles. Elas foram feitas pra isso. Ela se deliciava com a visão do teto do quarto dele. Ele havia instalado pequenos LEDs por toda a extensão dele, instalando um sistema de baixa tensão. O teto, quando ele acionava aquele botãozinho do lado da cama, se abria como o céu de verão. Cada LED era uma estrela. Fora o presente que ele deu para ela no aniversário de noivado na nova casa. Aquele nerd. Ele havia dito para ela que a distribuição das estrelas não era aleatória, e que havia uma mensagem ali. Que ela entenderia quando fosse a hora.

Ela apertou a mão dele, chegando mais perto. Ele respirava fundo enquanto virava para ela e apertava de leve as costelas dela. Como sempre. Ele sempre fazia ela rir depois do sexo, era uma marca registrada, assim como o beijo. Ela riu disso, e sorriu ainda mais, abrindo aquele sorriso lindo, fazendo o peito dele tremer de amor.

- Sabe, meu anjo, acho que teve algo que tu não percebeu.

A cabeça dele se inclinou no travesseiro, os olhos se curvando. Aquela carinha de confuso, como sempre. Os olhos dele se focaram nos dela. O milagre de olhos azuis dela.

- Ahm, se foi alguma data, amor, me desculpa, mesmo. Ando muito atarefado tendo que entregar os manuscritos, e...

O dedo dela se postou na boca dele, calando-o. Ah, como ele falava demais. Ela sorriu, sabendo que iria apelar para aquela mente assustadora dele.

- Que dia é hoje?

Ele olhou confuso, mas respondeu sem demora. Dia 2. De Setembro. Sorriu constrangido.

- Ah, desculpa, é dia 2, me fugiu completamente! - Virou-se rapidamente, abriu a gaveta. Voltou com um embrulho nas mãos. - Eu comprei semana passada, mas juro que me escapou hoje...

Ela sorriu. Não, não era isso, seu bobo. Puxou o cabelo para o lado, sorrindo. Ele tirou uma pequena corrente de ouro do embrulho, passando pelo pescoço dela. Um sabre de luz delicado, com a lâmina luminosa de pequenos diamentes cintilou ao ficar parada na dobra da clavícula. Ela sorriu. Ele não tinha cura, e sabia o valor que um símbolo daquele, de algo que fez tanto pra eles, valia tudo. Era o jeito dele, deixa pra lá, ela pensou. Ela amava ele assim.

- Bem, seu bobo, eu amei. Juro que nem esperava nada. Mas não, não é isso que você não notou.

Ele se deitou e olhou pras estrelas que eram só deles. Parecia ler a mensagem, ela sabia que ele lia. Será que aquela mensagem era só para ela? Ou para eles? Ele olhou de volta pra ela enquanto um relâmpago cortava a rua la fora. Na luz que entrou no quarto, ela viu os olhos dele se arregalando de compreensão, parecendo absorver toda a eletricidade daquele raio. A pele dele arrepiou na hora, de cima a baixo. Ela empalideceu e respirou fundo.

- É dia 2 e nós estamos na cama.

- Certo...

- É dia 2 e nós estamos na cama e não tem sangue aqui.

Ela sorriu e não disse mais nada. Ele avançou até ela, se levantou da cama, a levando junto com muita facilidade, levantando-a e a encaixando nos seu quadril. Ela o via de cima agora, e ele estava tremendo bem de leve, e ela só conseguia sorrir. O colar refletia a luz branca. - É sério? Nós vamos... Nós vamos ter o nosso pequeno?

- Sim, meu amor, nós vamos ter o nosso pequeno.

- Eu amo você, eu amo você. Eu tenho algo pra te mostrar!

Ela riu alto quando ele atirou o corpo dela de volta na cama. Sentou-se na porta, pegou a mão dela e encostou no peito dele. O coração dele explodia, firme, forte, constante. Fechou os olhos, ela fechou também. A mão dele conduziu a dela até a parte de cima da cabeceira da cama. Havia algo ali que ela nunca havia reparado, uma pequena entrada na madeira. Puxou e uma pequena caixinha se abriu. E havia um botão. Ele forçou o dedo dela contra o botão.

Um relâmpago iluminou todo o quarto quando ela abriu os olhos. Ele olhava para ela do mesmo jeito que olhou na primeira vez, sentado sozinho em um banco de colégio. Quando a luz se foi e os olhos dela se acostumaram com a luz, ela percebeu que algumas estrelas haviam sumido. As que sobravam formavam um círculo duplo, com uma seta no meio. A seta apontava para o mesmo botão que ela havia pressionado. Ela se levantou e olhou para a caixinha de madeira. Os olhos dele estavam fixados em algum lugar abaixo da linha de visão dela. Mas ela viu.

- Tu sempre esteve lá, meu amor. Quer ser minha pra sempre?

As palavras dele encheram o quarto. Um anel branco, com uma faixa fina ouro estava ali, encaixada em volta do botão. Uma vida pela frente, e um anel para provar.

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