20100706

teu fantasma aqui na chuva

As balas zuniam em volta da sua cabeça. A fumaça subia em espirais, o cheiro do sangue e sujeira se fundia com a pólvora quente. O peso da arma e a textura do cabo de madeira agredia sua pele.

Ele havia perdido tudo nessa guerra. Cada barulho de explosão e estampido de tiro
queimava fundo nas feridas muito mais profundas do que qualquer corte ou ferimento de bala.

tu vai (me amar ainda) esperar por mim?

O barulho de trovões enchia a noite, silenciando os gritos de guerra, os desesperados gemidos dos que só esperavam para morrer. Suas costas se encontravam em um ângulo torto em relação a pedra fria.

Todas as peças caindo ao seu desejo.

Ele teve que vir, era seu dever.

como tu supõe que eu vá (viver) lutar sem a certeza te (beijar) encontrar aqui de novo?

A chuva cai, mas não lava o sangue seco nas suas mãos. Como ele queria que a chuva o lavasse até os ossos, apagando os olhos dela, todos esses sorrisos e essas lembranças boas demais para que ele quisesse morrer ali sem elas.

A dúvida doeu mais do que a bala que atravessou seu pulmão.

eu vou voltar se eu (tu) quiser, mas tu (eu) não vou estar aqui, de qualquer modo

Enquanto seu rifle cai inútil na lama e seu sangue se diluindo na chuva e barro, ele deita sem gritos, sem desespero.

Os clarões iluminavam o céu, e bem ao longe naquela planície sangrenta, uma estrela brilhou pra ele. Se ele fechasse os olhos agora, a imagem ficaria gravada ali, pra sempre, gravada como um planeta, tão mais próximo dele. As mãos ensangüentadas e sujas se contraem inutilmente. A foto que escapa dos seus dedos se perde na lama, assim como ele a tinha perdido.


eu e ele estamos juntos (minha garota), muito melhores agora.
tu sempre soube que seria (tirada pra dançar por outro garoto) assim.
eu não esperaria por você (a chuva).
não precisa responder, não faria diferença (adeus).
boa sorte onde quer que esteja.


t.

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