20100705

tuas asas

O sangue gotejava lentamente. A pia brilhava escarlate entrecortada por pingos de água. O espelho era sujo, estrangeiro. O espelho não reconhecia o rosto parado em frente a ele, mas reconhecia sangue, é claro que reconhecia.

O rosto ali parado ostentava olhos fundos, brilhantes. Vazios. A face atrás dos óculos de aros finos ia lentamente empalidecendo. Seus braços abriam-se em arcos ao redor da cerâmica, seus pulsos pulsavam. Em um deles, a lâmina ainda se achava presa no meio daquele mar vermelho, que ia secando e coagulando contra o branco.

Se pudessemos ler aqueles olhos vazio, o que leriamos? Que pesadelos isso iria nos trazer? Noites delirando sobre até que ponto vale continuar tentando? Até onde as peças podem ser postas no lugar?

A lâmpada fluorescente pisca e falha. Ele está no chão, de braços abertos. O sangue formando asas para levá-lo onde ele mais quer estar. No espelho, escrito a dedo com o que sobrou dentro dele, o seu epitáfio em sangue, suas últimas palavras. Uma demonstração de tudo o que ele foi.

"Desculpa por essa bagunça."

t.

2 comentários: